domingo, 26 de fevereiro de 2012

Entrevista com: VERDADE

Com vocês, leitores, nossa quinta convidada:

Repórter: É uma honra poder ter este papo com a Senhora, Verdade.
Verdade: Estou verdadeiramente encantada por estar aqui, meu caro.
César: Então vamos à primeira pergunta: Por que os homens estão cada vez menos preocupados em praticá-la, Senhora Verdade?
Verdade: Medo, vaidade, orgulho ou hipocrisia, meu rapaz. O certo é que muitos mal entendidos e tragédias poderiam ser minimizados ou evitados se me levassem mais em consideração.
César: Em que ocasiões, se é que se pode colocar assim, o uso da Mentira é benéfico?
Verdade: Em muitas. Eu posso, muitas vezes, trazer sofrimentos terríveis e não provocar nenhum efeito útil, dependendo da questão. Não quero dizer com isso que mentir é melhor que me usar.
César: Do seu ponto de vista, como ensinar crianças a serem mais verdadeiras para se tornarem adultos responsáveis e conscientes?
Verdade: Os pais precisam ser verdadeiros com elas desde o princípio. Pais que escondem sentimentos, por exemplo, com objetivo de poupar os filhos de sofrimento, não ajudam na sua formação.
César: Mas a Senhora não concorda que as crianças são até mais verdadeiras que os próprios pais, na maior parte do tempo?
Verdade: Sim, plenamente. Elas têm uma companheira minha que se chama Espontaneidade. Uma pena que os adultos vão perdendo isso com o passar da vida.
César: E quando os adultos, líderes e pessoas públicas, adulteram completamente a Senhora, como se sente?
Verdade: Muito envergonhada. Parece até que ser verdadeiro é um desvio de comportamento nos dias de hoje. Minha amiga Honestidade tem sido cada vez mais ironizada, tanto no âmbito particular quanto no público.
César: Mas ser completamente verdadeiro não se torna um exercício difícil, num mundo onde a imagem e o artificialismo são tão venerados?
Verdade: É um ponderação sábia, mas como você mesmo coloca, trata-se de um exercício constante, até para sermos mais honestos com nosso próprio mundo interior. O reflexo disto certamente traria mais benefícios coletivos.
César: Para terminarmos, que compreensão racional é possível ter da Senhora, já que pra muitos, seu sentido é tão complexo?
Verdade: Do mais profundo de mim, o que existe são verdades, e não uma única, perfeita e absoluta. Assim como cada ser humano sente sua crença, cada um tem sua própria verdade.
César: Foi uma conversa muito interessante, instigante mesmo. Agradeço pelas palavras de sabedoria.
Verdade: Foi um contentamento poder esclarecer-me. Saibam me utilizar!

(parte do material intitulado Sete Entrevistas Inusitadas, de César Pavezzi.)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Entrevista com: Família

Com vocês leitores, nossa quarta convidada:

Repórter: É um grande prazer falar com a Senhora, Família.
Família: O prazer é meu, embora eu esteja meio desvirtuada, nesses tempos tão socialmente caóticos e desorganizados.
César: É fato, o que me leva à primeira questão: a Senhora se refere a uma família nuclear, tradicional?
Família: Não, meu querido. Acho que o conceito de grupo familiar se ampliou muito, até por conta das diferentes combinações familiares que observamos no mundo de hoje. Prefiro considerar o sentimento de família como algo mais expressivo e sólido no estabelecimento de papéis.
César: E a que a Senhora atribui essas mudanças tão profundas e amplas?
Família: Essa desagregação e os novos tipos de laços atravessaram os tempos influenciados pelas transformações ideológicas, culturais e até psicológicas, sofridas pela Humanidade como um todo. É possível pensar que tudo isso tem sido produzido pelo próprio ser humano para poder se adequar a muitas angústias e muita sede de autoconhecimento.
César: Quer dizer que a Senhora vê de maneira positiva até que crianças sejam educadas por avós, tios ou pais adotivos?
Família: De maneira geral, sim. Antes ter educação, além de proteção e alimento, vindos de um parente ou familiar próximo, do que não poder contar com pais biológicos despreparados ou pouco amorosos, não acha?
César: O que é mais triste perceber, nesse mundo onde famílias nem são bem formadas e muitas se desagregam com facilidade extrema?
Família: Crianças que não sabem o que é ter a mim... Uma criança sem família é como uma árvore sem raízes. Ela tem muita dificuldade de se desenvolver e solidificar sua formação. Mesmo adotada por outras pessoas, com certeza ela vai ter uma estrutura emocional mais segura.
César: Se pensamos numa família tradicional, nuclear, qual é o principal elemento social para que a mesma não se desagregue?
Família: Nem é preciso imaginar essa tal tradição de pai, mãe e filhos... O que é necessário para uma união, uma convivência saudável e harmônica se traduz por amor. Pode faltar quase tudo em qualquer tipo de grupo familiar, menos um amor profundo entre seus vinculados.
César: Uma família menor, mais planejada, é sinônimo de família feliz?
Família: Nem sempre... Prefiro considerar que, grande ou pequena, tudo depende da consciência e dos laços afetivos que existem entre as pessoas que a compõem. Mas é bom lembrar que filhos precisam de pais preparados e que tenham vindo de uma formação emocional consciente.
César: Pois bem, agora um questionamento final: por que, mesmo sendo todos filhos do mesmo Deus-Pai, os seres humanos se esquecem da grande família que é a Humanidade?
Família: Porque se esquecem de foram feitos para serem irmãos, para servirem uns aos outros, caridosa e solidariamente, em harmonia. Quem sabe não está chegando o tempo em que isso tudo se transforme... para melhor...
César: Foi muito emocionante colher suas respostas sábias. Agradeço muito.
(parte do material intitulado: Sete Entrevistas Inusitadas, de autoria de César Pavezzi.)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Entrevista com: Malícia

Com vocês leitores, nossa terceira convidada:


Repórter: Agradeço por aceitar nosso convite, Senhora Malícia.
Malícia: Estou contente por estar aqui, ainda mais com um repórter que parece tão... dedicado (sorriso insinuante).
César: (Pigarro) Bom, primeiro queremos saber como é fazer parte constante de muitos pensamentos dos seres humanos?
Malícia: Inevitável, meu caro. Com tanta superexposição de corpos e tantas insinuações em piadas, muito cedo as pessoas aprendem a me usar. E tenho certeza de que até gostam muito disso...
César: Mas o exagero dessa influência não pode tornar muita gente pervertida e imoral, quando se pensa em cidadania e bons costumes?
Malícia: Nossa, agora você parece estar falando como um velho beato e cheio de recalques emocionais. Não creio que é tão mal assim “apimentar” nossa visão dos fatos, em especial os que estão ligados à Sexualidade, minha companheira constante (risinho debochado).
César: Isso me faz lembrar de um outro questionamento: sua influência ocorre mais na mente das pessoas ou no estado emocional mesmo?
Malícia: Eu creio que as coisas no ser humano são cíclicas ou recorrentes. Se pensa maliciosamente, sente reflexos disso no seu comportamento; se há comportamento malicioso, sua mente vai ajudar a alimentar fantasias ou desejos a mais.
César: Há pessoas tímidas e introvertidas que não aceitam bem insinuações ou brincadeiras envolvendo a Senhora. O que opina sobre elas?
Malícia: Veja bem, sou suspeita para falar coisas positivas a meu respeito. Eu creio que certos seres humanos devem ter uma vida, incluindo a sexual, muito chata e sem graça (risinho dissimulado). E deveriam me agradecer por significar um estímulo a certos comportamentos, digamos, mais ousados.
César: A Senhora quer nos convencer de que presta um serviço à Humanidade quando contagia o exercício (ou a fantasia) sexual e o torna mais vulgar?
Malícia: Vulgaridade tem uma boa dose de mim, sim, por que não? Mas eu não controlo o modo como as pessoas se deixam levar... E nem o exagero. O que incentivo é algo mais irreverente quanto à sensualidade.
César: E sobre as piadas, algumas discriminatórias, que a envolvem?
Malícia: Em sociedades como as de hoje, onde quase tudo gira em torno de mim, não seria difícil constatar que muitas piadas só existem por conta daquilo que já expressei nas outras perguntas.
César: Já questionei a senhora Vaidade sobre estar ligada a um dos sete pecados bíblicos. E quanto à Senhora também ser lembrada na Luxúria?
Malícia: Acho graça relacionar pecado a tudo que é negativo nesse mundo, e me sinto orgulhosa de pensar que, mesmo que me considerem um mal, a maioria dos seres humanos continua me usando e abusando cotidianamente. Você não acha isso maliciosamente contraditório?
César (pigarreando): Bem, esgotamos as sete perguntas e eu agradeço pela oportunidade de estar com a Senhora.
Malícia: Não me agradeça, pois vai continuar estando comigo por muito tempo (riso). 

(parte do material produzido para o Blog, intitulado Sete Entrevistas Inusitadas, de César Pavezzi.)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Entrevista com: VAIDADE

Com vocês, leitores, nossa segunda convidada:


Repórter: Bem vinda, cara Vaidade.
Vaidade: Obrigado, meu caro. Não pude deixar de reparar que te falta muito de mim... Parece um tanto despojado para um escritor, repórter... (sorriso irônico).
César: A Senhora está certa. E creio que, a partir disso, posso fazer meu primeiro questionamento: por que a Senhora se tornou tão vital para a maioria dos seres humanos?
Vaidade: Um tanto óbvio, não é, meu rapaz? A Humanidade se organizou em sociedades ritualistas e materialistas de toda ordem, facilitando essa necessidade de aparências e exigências de boa apresentação para conviver.
César: E como é estar sempre associada a padrões de autoestima, na mídia e no sentimento de muita gente?
Vaidade: Sensacional (sorriso largo). Eu deito e rolo quando percebo que somente através disso as pessoas se valorizam, se sentem mais seguras e extrovertidas.
César: Mas isso não pode ter um efeito contrário quando a pessoa descobre que autoestima vai muito além de aparência, tendo mais a ver com sua essência?
Vaidade: (Shhhh, pondo o dedo nos lábios) Que ninguém nos ouça, meu querido. Mas mesmo essas que pensam somente na essência, no interior, têm muito de vaidosas. É quase inconsciente, mas eu estou lá.
César: Bom, se for levar ao pé da letra o que disse na primeira resposta, podemos considerar que a Senhora é mais um produto dos meios que estimulam o consumo do que um sentimento genuíno do ser humano?
Vaidade: Também. Acho que as coisas são complementares: eu existo porque o ser humano precisa de mim para sobreviver e isso estimula a indústria de produtos e serviços para as pessoas me engrandecerem.
César: Pois bem, em sendo assim, não é estranho imaginar que muito mal se tem materializado por conta de seu domínio sobre líderes e abastados?
Vaidade: Veja bem, eu não tenho controle sobre isso. Sempre considerei que minha existência na cultura e no comportamento da Humanidade fosse para gerar realizações positivas, embelezadoras. Se assim não é, que posso fazer?
César: E como é estar associada a um dos sete pecados capitais, a Soberba, segundo a Bíblia?
Vaidade: Se é que posso me expressar assim, sinto como algo que me envaidece (riso) ainda mais. Imagine, se o próprio ser humano, apesar de me considerar um elemento de pecado, faz tanta questão que me colocar em evidência, eu é que não vou me criticar por isso, certo?
César: Por último, e se é que isso é possível, gostaria de saber se a Senhora faria alguma crítica a si mesma...
Vaidade: Nenhuma, meu querido. Sou linda, jovem, bem vestida, sigo as últimas tendências de moda e cosméticos, o que haveria para criticar aqui?! (sorrisos).
César: Está certo. Muito grato por nosso encontro.
Vaidade: Já acabou? Que pena, eu estava adorando. Pensei até em lhes dar umas dicas de beleza e gestual...
César: Numa próxima ocasião, talvez. Até!

(parte do material produzido para o Blog, intitulado Sete Entrevistas Inusitadas, de César Pavezzi.)

"O direito à literatura"(fragmento)

Apresentamos, de forma objetiva, a visão de Antônio Cândido, grande historiador, analista e professor de Literatura: (...) "Chamarei de...