Claro está que uma “consciência”
de boneco não estaria tão preparada ou orientada para as tentações do novo
mundo que se abrira para Pinóquio. Não muito diferente do mundo de hoje, salvo
na roupagem tecnológica que ganharam alguns tipos de distrações e lazeres, com
certeza bem mais interessantes que as carteiras de escola e as atividades
intelectuais propostas. E nesse caldeirão de influências, que no livro são
representadas por criaturas inescrupulosas e enganadoras, as crianças não sabem
(ou não querem) distinguir o que é mais importante para sua vida de “bonecos”
deslumbrados com os espetáculos, portáteis ou massificadores, que o mundo
midiático e consumista lhes oferece diariamente.
Ainda
que haja “grilos falantes” e “fadas”, outros símbolos positivos na vida do
menino, ou melhor, boneco, o grande circo de distrações e maravilhas aberto aos
seus olhos e à sua imaginação funciona como o anestésico atrofiador de algum
rasgo de consciência que seus verdadeiros amigos possam esperar de sua atitude.
E a mentira entra como parte desse aprendizado torto, onde levar vantagem e não
ser punido nem sempre conseguem impedir seu “nariz” comprido de denunciá-lo, e
muitas vezes de se envergonhar. Já que ainda é um boneco-menino e não aprendeu
certas malícias reservadas à vida de adulto.
(César Pavezzi)