sábado, 22 de outubro de 2016

Mais uma entrevista inusitada...

César Pavezzi encara uma de repórter outra vez e resolve conversar com outras sete Senhoras dominadoras do mundo e da vida, em muitos sentidos... Um projeto audacioso porque envolve questionar justamente quem nos dá respostas para todas as angústias e inquietações da Humanidade. Com certeza, a sabedoria das respostas obtidas pode nos levar a inúmeras reflexões sobre o que estamos fazendo com nossa própria realidade e com nosso destino. Com vocês, leitores, nossa quarta convidada:

Senhora Bondade

César Pavezzi: É uma grande satisfação poder falar com a Senhora, tão nobre e tão dignificadora das ações humanas...
Bondade: Eu me sinto honrada, meu caro repórter... E naturalmente irei corresponder às suas expectativas da melhor maneira possível.
Repórter: É possível pensar, como no passado alguns filósofos já propuseram, que o ser humano, na sua natureza intrínseca, é bom?
Bondade: Completamente. Não posso admitir que ele seja concebido com sementes e germes de maldade, na sua consciência e na sua alma. São as experiências e circunstâncias emocionais e sociais que o tornam diferente.
Repórter: Assim considerando, o que o transformaria seriam, então, fatores e acontecimentos externos?
Bondade: Eu acredito que sim. As provas, os desafios, os obstáculos e influências encontrados ao longo de sua jornada nesse mundo, fazem com que o mesmo assuma comportamentos e atitudes que o afastam de sua natureza original.
Repórter: Ou seja, o entorno social e as instituições que o obrigam a assumir papéis auxiliam na perda desse componente tão importante para seu caráter e equilíbrio de sua personalidade?
Bondade: Este é um raciocínio muito acertado. Pressionado por tantas exigências do meio social, e por dificuldades internas de equilibrar posturas e decisões a serem tomadas, o ser humano comete atos às vezes abomináveis, impensáveis num indivíduo de sua espécie.
Repórter: Como poderia ocorrer de forma mais coerente a formação de valores positivos, como a senhora, e aquele equilíbrio entre personalidade e papéis sociais inerentes ao estar nesse mundo?
Bondade: Na minha terna e carinhosa visão, dois fatores essenciais se perdem durante a vida de um indivíduo: a maneira como ele deveria vivenciar o respeito dentro da coletividade e seu afastamento de uma crença espiritual. Uma consciência cultivada desses dois aspectos levaria a um entendimento melhor do que é ser bom, com empatia e responsabilidade moral.
Repórter: Poderia nos explicitar algum exemplo referente ao respeito, enquanto prática coletiva?
Bondade: Claro. Respeitar suas limitações, suas dificuldades, sua condição de ser em constante mudança e crescimento é um sentimento que pode e deve ser transferido, em termos de reciprocidade, a todos os outros que são seres humanos. Ao invés disso, o que se vê em muitos povos e comunidades é somente egoísmo, vaidade, vícios, imediatismos pessoais, dissimulações.
Repórter: Em função disso, não é difícil entender aquele afastamento de uma crença espiritual, já que não existem compromissos morais?
Bondade: Perfeitamente. Se o ser humano se volta absolutamente para ele e para suas necessidades físicas e interesses materialistas, a possibilidade de acreditar em questões espirituais e seus desdobramentos acaba se tornando muito remota. E como sentir bondade se você não se reconhece no outro, enquanto semelhante?
Repórter: Bem, para finalizar, que conselho a senhora daria para aquelas pessoas que, apesar de todas as questões de nosso mundo, ainda tentam manter um mínimo da senhora em seus corações?
Bondade: Para que se mantenham assim, pois além de mim, não pode faltar aos seres humanos outro sentimento primordial que pode preservar sua alma: o amor.

Repórter: Extremamente agradecido e emocionado com suas palavras profundas e luminosas.

"O direito à literatura"(fragmento)

Apresentamos, de forma objetiva, a visão de Antônio Cândido, grande historiador, analista e professor de Literatura: (...) "Chamarei de...