quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Mais entrevistas inusitadas...

César Pavezzi encara uma de repórter outra vez e resolve conversar com outras sete Senhoras dominadoras do mundo e da vida, em muitos sentidos... Um projeto audacioso porque envolve questionar justamente quem nos dá respostas para todas as angústias e inquietações da Humanidade. Com certeza, a sabedoria das respostas obtidas pode nos levar a inúmeras reflexões sobre o que estamos fazendo com nossa própria realidade e com nosso destino.

Com vocês, leitores, nossa primeira convidada:
Senhora Justiça
Repórter: É uma grande honra entrevistar essa grande dama da sociedade humana...
Justiça: Agradeço e acho justo que possa expor certos erros e equívocos que cometem os homens quando pretendem me aplicar.
César: Então podemos começar com uma grande questão: qual a maior injustiça cometida pela espécie humana durante sua história?
Justiça: O fato de não considerar que a verdadeira justiça está costurada com princípios morais, e bastante racionais.
César: Quer dizer isso que o que se pratica carece de fundamento racional, e a balança geralmente pende para o lado emocional dos julgamentos?
Justiça: Na maior parte das vezes, sim. Falar em equilíbrio, em algo justo e ponderado, requer sempre levar em conta fundamentos racionais e, consequentemente, morais, quando se julga uma causa.
César: E o que opina sobre ser representada pelo símbolo de uma dama vendada, segurando a balança, já que falamos em equilíbrio?
Justiça: Muitos interpretam mal o fato de me considerarem “cega”. Todos deveriam ser iguais quando se trata de ter consciência dos seus atos, e não fecharem os olhos para certas questões num julgamento equilibrado e moralmente correto.
César: Por falta então de um julgamento mais racional e sustentado em questões morais, a senhora acha que muitos foram condenados injustamente?
Justiça: Isso é evidente ao longo de toda a história da humanidade. Nunca existiram tantos mártires que, só foram compreendidos, depois de erroneamente julgados e mortos.
César: Então podemos pensar que os muitos defensores de causas nobres, bem como líderes de movimentos sociais, tornaram-se heróis somente por conta de que se cometeu injustiça com suas mortes?
Justiça: Na maior parte dos casos, sim, é uma triste constatação. Ou seja, somente foram reconhecidos como homens justos por conta da injustiça que fizeram com os mesmos.
César: Nesse sentido, de que valem então as leis, os estatutos, os regulamentos e as regras de conduta, quando prevalece uma justiça enganosa exercida por questões de poder e interesses materialistas?
Justiça: Quase nada, ou uma mera representação de papeis. Enquanto o ser humano não entender que ser justo é repensar seus valores morais, e exercê-los na prática, reconhecendo e respeitando os valores do outro, tudo isso não passa de mero discurso vazio.
César: E já que a humanidade a trata dessa forma enganosa e triste, como a senhora se sente no mundo de hoje?
Justiça: Como sempre me senti em muitos momentos e espaços desse mundo: maltrapilha, descalça, cansada, tristemente exercida por muitos aproveitadores, interesseiros e egoístas, cujos valores morais são hipócritas, demagógicos e extensamente duvidosos. Mas ainda confio que os poucos justos podem fazer a diferença na vida.

Repórter: Não podia esperar conclusão mais lúcida e justa de sua parte. Muito grato pelas palavras sábias e oportunas. 

"O direito à literatura"(fragmento)

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