segunda-feira, 20 de março de 2017

Mais entrevistas inusitadas...

César Pavezzi encara uma de repórter outra vez e resolve conversar com outras sete Senhoras dominadoras do mundo e da vida, em muitos sentidos... Um projeto audacioso porque envolve questionar justamente quem nos dá respostas para todas as angústias e inquietações da Humanidade. Com certeza, a sabedoria das respostas obtidas pode nos levar a inúmeras reflexões sobre o que estamos fazendo com nossa própria realidade e com nosso destino. Com vocês, leitores, nossa sexta convidada:

Senhora Saudade
César Pavezzi: É com muita honra e satisfação que passo a entrevistar um sentimento tão genuíno como a senhora...
Saudade: Eu também agradeço e me sinto honrada por estar aqui.
Repórter: Qual seria a melhor definição da senhora nos corações dos seres humanos?
Saudade: Um misto de sentir falta, melancolia por não ter mais e certa tristeza por conta da distância ou do distanciamento entre pessoas. Às vezes, é complicado me traduzir... Depende das situações envolvidas.
Repórter: É verdade que, curiosamente, muitas pessoas sentem saudade de algo que ainda não viveram ou que gostariam de ter vivido?
Saudade: Pra você ver como sou particularmente intrigante nos corações e mentes dos seres humanos: isso pode acontecer, misturado com uma melancolia interior muito intensa. Acho que são certos desejos ou planos reprimidos que ficam no subconsciente...
Repórter: Para muitos, a senhora é um sentimento bonito, apesar de envolver tristeza e decepção. O que opina sobre isso?
Saudade: Prefiro pensar que sou um sentimento positivo, pois meu efeito é de justamente preservar a lembrança e ativar muitas memórias. Acho até que é mais correto pensar que só se tem saudade daquilo que foi bom e mais positivo.
Repórter: Muitos historiadores e antropólogos avaliam que sua origem vem do chamado banzo africano, já que os negros escravizados sentiam falta de suas terras e parentes, dos quais foram separados e levados para outros lugares. Isso a deixa orgulhosa?
Saudade: Muitíssimo. Saber que sou um sentimento surgido assim, por conta de opressão e violência contra os africanos, me faz pensar no quanto tenho de honra e dignidade, já que lhes despertava memórias e lembranças fortes de suas etnias e famílias, e que, com certeza os ajudou a lutar e resistir, até com esperança de voltar...
Repórter: Resposta muito lúcida. E, a partir disso, como se sente por ser uma palavra existente somente na língua portuguesa, sem tradução literal em outros idiomas?
Saudade: Feliz, sem querer ser exclusivista. Até porque trata-se apenas de uma questão de léxico, já que existem outros termos equivalentes que podem me traduzir em outras nações.
Repórter: Bom, pensando de forma mais racional, qual seria o pior sentimento de saudade que um ser humano poderia vivenciar?
Saudade: Eu creio que muitos confundem, por excesso de apego, saudade com luto... Mesmo quando se tratar da perda física de entes queridos, há que se relativizar o que sentimos, pois é normal ter saudade, mas não ficar cultivando uma tristeza depressiva perene.
Repórter: Para finalizar, que mensagem a senhora poderia deixar aos nossos leitores, com certeza, sempre saudosos de alguém ou de alguma situação de vida?
Saudade: Que me cultivem de maneira leve e positiva, não esquecendo de que sou motor para memórias e lembranças positivas, e que ajudo a preservar sua história de vida e seus bons sentimentos. Abraço de Saudade a todos.

"O direito à literatura"(fragmento)

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