domingo, 8 de maio de 2011

UM POEMA QUE DIZ MUITO DE MIM...

METADE
(Osvaldo Montenegro)

                                    E que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a pessoa que eu amo
Seja sempre amada, mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
E a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimento
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
E a outra metade é um vulcão

                Que o medo da solidão se afaste
                Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
                Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
                Que eu me lembro ter dado na infância
                Porque metade de mim é a lembrança do que fui
                A outra metade eu não sei

               Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
               Pra me fazer aquietar o espírito
               E que o teu silêncio me fale cada vez mais
               Porque metade de mim é abrigo
               Mas a outra metade é cansaço

               Que a Arte nos aponte uma resposta
               Mesmo que ela não saiba
               E que ninguém a tente complicar
               Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
               Porque metade de mim é platéia
               E a outra metade é canção

               E que a minha loucura seja perdoada
               Porque metade de mim é amor
               E a outra metade... também

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"O direito à literatura"(fragmento)

Apresentamos, de forma objetiva, a visão de Antônio Cândido, grande historiador, analista e professor de Literatura: (...) "Chamarei de...