domingo, 16 de outubro de 2011

OS VICIADOS (Cena terceira)

CENA 3: Marido chega do trabalho e conversa com esposa:


Patrícia (receptiva e atenciosa):- Oi, amor. Ih, que cara é essa?

Maurício (sério e com ar cansado):- Oi... Levei uma chamada do patrão e uma advertência no trabalho... Hoje não é o meu dia.

Patrícia:- Deixa eu adivinhar: o chefe te pegou... lendo, na hora do cafezinho. Acertei?

Maurício:- É, e o que tem isso demais? Fui adiantar mais um capítulo da história que comecei a ler, e ele disse que estava voltando ao vício e que eu precisava me tratar. Eu, me tratar? Pode um negócio desses?

Patrícia (compreensiva):- É, meu querido, mas você disse que não ia mexer com isso no local de trabalho... Tudo bem que se trata de Machado de Assis, mas creio que você anda exagerando...

Maurício:- Pois é, mas é que achei que não teria problema... E nem vou te garantir que vou parar... Sei que se quiser, eu paro, mas é preciso muita força de vontade pra abandonar esse hábito, digo, vício, assim, de uma hora pra outra.

Patrícia:- É, mas vê se você se controla, porque algumas autoridades estão de olho em certos comportamentos e já estão até divulgando classificações: uns são moderados, outros intensivos, e tem os crônicos, que dizem ser o pior grau de viciados.


Maurício:- Pode deixar. E cadê o Paulinho?

Patrícia:- Lá no quarto... Imagine, procurando nos livros técnicos de leis e estatutos onde está escrito que as bibliotecas em geral não podem mais manter os acervos de livros de literatura nacional e internacional...

Maurício:- Esse é o meu garoto... Sétima série e já com esse espírito leitor. (e saem para o quarto do garoto).


(In: Os Viciados, dramédia em quadros cotidianos, de César Pavezzi).

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