domingo, 9 de outubro de 2011

OS VICIADOS (Cena segunda)

CENA 2: Dois namorados discutem, numa praça:

Michele (irritada e insistente):- Você prometeu, cara... Você disse que ia parar com isso...
Cássio (tentando acalmá-la, mas sério):- Foi só naquele dia, mina. Pô, será que    você não confia em mim... Não aconteceu de novo, eu juro.
Michele:- Como não? Eu sei que você foi visto hoje pelo seu primo com outro livro... Não tenta me enganar... E esse é pior do que o outro: um romance da Agatha Christie. O que você pretende?!
Cássio:- Qual é o problema? Foi só uma pequena recaída...
Michele:- Pequena?! De Stephen King pra essa autora... Você deve estar brincando. Eu ‘tô muito preocupada com você. E se seus pais descobrirem?
Cássio:- Não vão saber... Gata, fica tranqüila que isso não ‘tá me fazendo mal algum... Pelo menos, eu não sinto.
Michele:- Mas, e eu?! Você pensa que é fácil saber que você perde tempo com isso e não vai me visitar? E a vergonha, se uma de minhas amigas descobrirem que namoro um viciado?... E que nem quer se ajudar?...
Cássio (tentando abraçá-la):- Você tem que compreender... Eu preciso disso. Minha mente não pode passar sem isso, nem meu coração...
Michele (afastando-se, alterada):- Não compreendo... Eu não sou assim e nem vou querer um namorado desse jeito. Não posso confiar em alguém mais... mais... lido do que eu. (e sai, apressada).
Cássio (reflexivo):- Aposto que é só porque a autora é uma mulher...(e sai, pelo lado contrário).

(In: OS VICIADOS, dramédia em quadros cotidianos, de César Pavezzi.)

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