domingo, 4 de março de 2012

Entrevista com: CORRUPÇÃO

Com vocês, leitores, nossa sexta convidada:

Repórter: Nossa entrevistada dessa vez é a Senhora Corrupção.
Corrupção: É uma satisfação saber que os leitores se interessam por mim.
César: Realmente, a Senhora sempre esteve em alta no mundo todo. Como se sente com relação a isso?
Corrupção: Bom, eu sou um produto básico da índole do ser humano. Como diz a frase popular: “todo homem tem seu preço”. E com certeza passei a fazer parte da personalidade humana desde os tempos mais remotos.
César: Para muitos homens, a sua presença na sociedade representa um “câncer” que precisa ser extirpado totalmente, para não continuar contaminando os grupos sociais. O que pensa a respeito?
Corrupção: Eu não ligo a mínima. A própria humanidade criou mecanismos que facilitam a minha propagação. Desde certos relacionamentos familiares até grandes negócios comerciais, todos se utilizam de mim. É típico da civilização.
César: A Senhora quer dizer que quanto mais civilizado o mundo, mais corrupto ele se torna?
Corrupção: Essa espécie de civilização que se desenvolveu está toda costurada com atos e desmandos temperados por mim. Poder, dinheiro, fama, vaidades e egoísmos são terrenos férteis para o meu domínio.
César: Não incomoda ser famosa por provocar prejuízos e sofrimentos em vários graus?
Corrupção: Bem, eu também tenho vaidade, mas penso que a Humanidade não precisaria mais de mim se houvesse menos egoísmo e menos interesses materiais em jogo. Não é o que tem se visto por aí.
César: Políticos se corrompem tanto quanto empresários, ou existe mais da sua interferência em algum setor?
Corrupção: Eu existo na negociação miúda envolvida nas relações familiares e consigo atingir até os mais altos escalões de determinados conglomerados financeiros. Muitos me confundem com “conciliação” de interesses, e até me dão nomes bonitos, técnicos. Mas no fundo eu posso comprar qualquer um.
César: Exageros à parte, e quando existe uma pessoa que não se deixa influenciar pela sua presença em determinada relação social?
Corrupção: Penso que seja uma pessoa fora de sintonia com essa sociedade que se diz civilizada e desenvolvida, já que estar nesse jogo inclui uma boa dose de interesse material e individualismo. Essa, digamos, exceção da natureza humana seria um verdadeiro herói da modernidade.
César: Menos mal que a senhora possa considerar assim... Mas, por último, e quando a senhora não existir mais, o que fará depois da sua, digamos, aposentadoria?
Corrupção: Bem, meu rapaz, sendo bem direta: isso ainda vai demorar muito a acontecer. Imagine se as grandes organizações, instituições e famílias poderosas vão deixar de influir nos destinos da Humanidade? Onde houver jogos de interesses, mentalidades materialistas e lideranças imorais, lá estarei, sempre nas entranhas dessas negociações sociais...
César (cara de revolta): Mesmo diante de tanta franqueza, agradeço pela disposição de falar sobre sua realidade. Já foi o bastante!
(parte do material intitulado Sete Entevistas Inusitadas, do autor César Pavezzi.)

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