domingo, 7 de maio de 2017

Uma última entrevista inusitada...

César Pavezzi encara uma de repórter outra vez e resolve conversar com outras sete Senhoras dominadoras do mundo e da vida, em muitos sentidos... Um projeto audacioso porque envolve questionar justamente quem nos dá respostas para todas as angústias e inquietações da Humanidade. Com certeza, a sabedoria das respostas obtidas pode nos levar a inúmeras reflexões sobre o que estamos fazendo com nossa própria realidade e com nosso destino. Com vocês, leitores, nossa sétima convidada:

Senhora Solidão

César Pavezzi: É com respeito e admiração que começo essa nossa entrevista, minha cara Senhora.
Solidão: Muito grata, meu caro repórter. Vou procurar esclarecer as coisas de forma simples e direta, pode acreditar.
Repórter: As pessoas confundem muito o fato de alguém querer ficar sozinho com ser solitário. O que pensa sobre isso?
Solidão: Pois é, há que se fazer uma distinção analítica. Quando alguém está sozinho, não solitário, em muitos aspectos, é por pura opção ou vontade. Ser solitário envolve avaliar isolamento, tristeza, depressão, timidez, introvertimento, entre outros fatores sócio-emocionais.
Repórter: Bem, esse e outro tipo de confusão que acontece, quando o assunto é a senhora, pode explicar certa negatividade que carrega?
Solidão: Pode, em muitas ocasiões. O ser humano é gregário, interativo, sociável, não sendo admitido que alguém fique na minha companhia por muito tempo ou por opção.
Repórter: Há diferentes tipos de solidão, então? Como quais?
Solidão: Creio que é necessário separar as relações humanas, seus papéis, as condições sociais, para poder me entender melhor. Há solidão até em muitas relações que se dizem amorosas... E há solidão entre membros de uma mesma família, e até de uma mesma comunidade específica. Uma pessoa pode estar cercada de uma multidão, e se sentir extremamente sozinha. Depende das circunstâncias e motivações.
Repórter: Muitos seres humanos dizem ser a solidão amorosa o pior tipo de sentimento que a envolve. Também acredita nisso?
Solidão: Pode ser... Mas creio que, se você amou alguém e tem lembranças positivas e emocionantes, eu acabo sendo amenizada, já que a memória pode deixar as pessoas menos solitárias.
Repórter: E a solidão da falta de amigos? É dolorosa também, não acha?
Solidão: Sem dúvida. Creio que o segredo para me evitar, nessas relações, é não desejar que outro seja como você, e respeitar as diferenças, incluindo aqui o modo de sentir as coisas.
Repórter: Mas estar cercado de um monte de pessoas do lado de fora não significa que, internamente, não possamos estar num momento de solidão profunda, não é mesmo?
Solidão: Em muitas circunstâncias, sim. Mas prefiro compreender que, quando eu toco as pessoas, é para significar um tipo de pausa para reflexão: sobre a vida, suas relações com as pessoas, com o mundo que te cerca, sobre o que te faz feliz ou descontente...
Repórter: Há certas pessoas que também acreditam que o ser humano nunca está totalmente sozinho, sendo sempre velado ou protegido por forças e entidades espirituais. Isso seria possível?
Solidão: Depende. Uma crença é sempre uma esperança a mais para você se sentir amparado, acompanhado. Cada ser humano é fonte de energias e efeitos emocionais constantes que podem tranquilizá-lo, animá-lo ou prejudicá-lo. Não estar sozinho ou não ser solitário é uma questão de escolha.
Repórter: Profundamente agradecido por suas palavras sinceras e cheias de reflexão. Meus respeitos.

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