César Pavezzi encara uma
de repórter outra vez e resolve conversar com outras sete Senhoras dominadoras
do mundo e da vida, em muitos sentidos... Um projeto audacioso porque envolve
questionar justamente quem nos dá respostas para todas as angústias e
inquietações da Humanidade. Com certeza, a sabedoria das respostas obtidas pode
nos levar a inúmeras reflexões sobre o que estamos fazendo com nossa própria
realidade e com nosso destino. Com vocês, leitores, nossa sexta convidada:
Senhora
Saudade
César Pavezzi: É com muita
honra e satisfação que passo a entrevistar um sentimento tão genuíno como a
senhora...
Saudade: Eu também
agradeço e me sinto honrada por estar aqui.
Repórter: Qual seria a
melhor definição da senhora nos corações dos seres humanos?
Saudade: Um misto de sentir
falta, melancolia por não ter mais e certa tristeza por conta da distância ou
do distanciamento entre pessoas. Às vezes, é complicado me traduzir... Depende
das situações envolvidas.
Repórter: É verdade que,
curiosamente, muitas pessoas sentem saudade de algo que ainda não viveram ou
que gostariam de ter vivido?
Saudade: Pra você ver como
sou particularmente intrigante nos corações e mentes dos seres humanos: isso
pode acontecer, misturado com uma melancolia interior muito intensa. Acho que
são certos desejos ou planos reprimidos que ficam no subconsciente...
Repórter: Para muitos, a
senhora é um sentimento bonito, apesar de envolver tristeza e decepção. O que
opina sobre isso?
Saudade: Prefiro pensar
que sou um sentimento positivo, pois meu efeito é de justamente preservar a
lembrança e ativar muitas memórias. Acho até que é mais correto pensar que só
se tem saudade daquilo que foi bom e mais positivo.
Repórter: Muitos
historiadores e antropólogos avaliam que sua origem vem do chamado banzo
africano, já que os negros escravizados sentiam falta de suas terras e parentes,
dos quais foram separados e levados para outros lugares. Isso a deixa
orgulhosa?
Saudade: Muitíssimo. Saber
que sou um sentimento surgido assim, por conta de opressão e violência contra
os africanos, me faz pensar no quanto tenho de honra e dignidade, já que lhes
despertava memórias e lembranças fortes de suas etnias e famílias, e que, com
certeza os ajudou a lutar e resistir, até com esperança de voltar...
Repórter: Resposta muito
lúcida. E, a partir disso, como se sente por ser uma palavra existente somente
na língua portuguesa, sem tradução literal em outros idiomas?
Saudade: Feliz, sem querer
ser exclusivista. Até porque trata-se apenas de uma questão de léxico, já que
existem outros termos equivalentes que podem me traduzir em outras nações.
Repórter: Bom, pensando de
forma mais racional, qual seria o pior sentimento de saudade que um ser humano
poderia vivenciar?
Saudade: Eu creio que
muitos confundem, por excesso de apego, saudade com luto... Mesmo quando se
tratar da perda física de entes queridos, há que se relativizar o que sentimos,
pois é normal ter saudade, mas não ficar cultivando uma tristeza depressiva
perene.
Repórter: Para finalizar,
que mensagem a senhora poderia deixar aos nossos leitores, com certeza, sempre
saudosos de alguém ou de alguma situação de vida?
Saudade: Que me cultivem
de maneira leve e positiva, não esquecendo de que sou motor para memórias e
lembranças positivas, e que ajudo a preservar sua história de vida e seus bons
sentimentos. Abraço de Saudade a todos.
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