César Pavezzi encara uma
de repórter outra vez e resolve conversar com outras sete Senhoras dominadoras
do mundo e da vida, em muitos sentidos... Um projeto audacioso porque envolve
questionar justamente quem nos dá respostas para todas as angústias e
inquietações da Humanidade. Com certeza, a sabedoria das respostas obtidas pode
nos levar a inúmeras reflexões sobre o que estamos fazendo com nossa própria
realidade e com nosso destino. Com vocês, leitores, nossa quarta convidada:
Senhora Bondade
César Pavezzi: É uma
grande satisfação poder falar com a Senhora, tão nobre e tão dignificadora das
ações humanas...
Bondade: Eu me sinto
honrada, meu caro repórter... E naturalmente irei corresponder às suas expectativas
da melhor maneira possível.
Repórter: É possível pensar,
como no passado alguns filósofos já propuseram, que o ser humano, na sua
natureza intrínseca, é bom?
Bondade: Completamente.
Não posso admitir que ele seja concebido com sementes e germes de maldade, na
sua consciência e na sua alma. São as experiências e circunstâncias emocionais
e sociais que o tornam diferente.
Repórter: Assim
considerando, o que o transformaria seriam, então, fatores e acontecimentos
externos?
Bondade: Eu acredito que
sim. As provas, os desafios, os obstáculos e influências encontrados ao longo
de sua jornada nesse mundo, fazem com que o mesmo assuma comportamentos e
atitudes que o afastam de sua natureza original.
Repórter: Ou seja, o
entorno social e as instituições que o obrigam a assumir papéis auxiliam na
perda desse componente tão importante para seu caráter e equilíbrio de sua
personalidade?
Bondade: Este é um
raciocínio muito acertado. Pressionado por tantas exigências do meio social, e
por dificuldades internas de equilibrar posturas e decisões a serem tomadas, o
ser humano comete atos às vezes abomináveis, impensáveis num indivíduo de sua
espécie.
Repórter: Como poderia
ocorrer de forma mais coerente a formação de valores positivos, como a senhora,
e aquele equilíbrio entre personalidade e papéis sociais inerentes ao estar
nesse mundo?
Bondade: Na minha terna e
carinhosa visão, dois fatores essenciais se perdem durante a vida de um
indivíduo: a maneira como ele deveria vivenciar o respeito dentro da
coletividade e seu afastamento de uma crença espiritual. Uma consciência
cultivada desses dois aspectos levaria a um entendimento melhor do que é ser bom,
com empatia e responsabilidade moral.
Repórter: Poderia nos
explicitar algum exemplo referente ao respeito, enquanto prática coletiva?
Bondade: Claro. Respeitar
suas limitações, suas dificuldades, sua condição de ser em constante mudança e
crescimento é um sentimento que pode e deve ser transferido, em termos de
reciprocidade, a todos os outros que são seres humanos. Ao invés disso, o que
se vê em muitos povos e comunidades é somente egoísmo, vaidade, vícios,
imediatismos pessoais, dissimulações.
Repórter: Em função disso,
não é difícil entender aquele afastamento de uma crença espiritual, já que não
existem compromissos morais?
Bondade: Perfeitamente. Se
o ser humano se volta absolutamente para ele e para suas necessidades físicas e
interesses materialistas, a possibilidade de acreditar em questões espirituais
e seus desdobramentos acaba se tornando muito remota. E como sentir bondade se
você não se reconhece no outro, enquanto semelhante?
Repórter: Bem, para
finalizar, que conselho a senhora daria para aquelas pessoas que, apesar de
todas as questões de nosso mundo, ainda tentam manter um mínimo da senhora em
seus corações?
Bondade: Para que se
mantenham assim, pois além de mim, não pode faltar aos seres humanos outro
sentimento primordial que pode preservar sua alma: o amor.
Repórter: Extremamente
agradecido e emocionado com suas palavras profundas e luminosas.
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