Com vocês, leitores, nossa
primeira convidada:
Senhora Justiça
Repórter: É uma grande
honra entrevistar essa grande dama da sociedade humana...
Justiça: Agradeço e acho
justo que possa expor certos erros e equívocos que cometem os homens quando
pretendem me aplicar.
César: Então podemos
começar com uma grande questão: qual a maior injustiça cometida pela espécie
humana durante sua história?
Justiça: O fato de não
considerar que a verdadeira justiça está costurada com princípios morais, e
bastante racionais.
César: Quer dizer isso que
o que se pratica carece de fundamento racional, e a balança geralmente pende
para o lado emocional dos julgamentos?
Justiça: Na maior parte
das vezes, sim. Falar em equilíbrio, em algo justo e ponderado, requer sempre
levar em conta fundamentos racionais e, consequentemente, morais, quando se
julga uma causa.
César: E o que opina sobre
ser representada pelo símbolo de uma dama vendada, segurando a balança, já que
falamos em equilíbrio?
Justiça: Muitos
interpretam mal o fato de me considerarem “cega”. Todos deveriam ser iguais
quando se trata de ter consciência dos seus atos, e não fecharem os olhos para
certas questões num julgamento equilibrado e moralmente correto.
César: Por falta então de
um julgamento mais racional e sustentado em questões morais, a senhora acha que
muitos foram condenados injustamente?
Justiça: Isso é evidente
ao longo de toda a história da humanidade. Nunca existiram tantos mártires que,
só foram compreendidos, depois de erroneamente julgados e mortos.
César: Então podemos
pensar que os muitos defensores de causas nobres, bem como líderes de
movimentos sociais, tornaram-se heróis somente por conta de que se cometeu
injustiça com suas mortes?
Justiça: Na maior parte
dos casos, sim, é uma triste constatação. Ou seja, somente foram reconhecidos
como homens justos por conta da injustiça que fizeram com os mesmos.
César: Nesse sentido, de
que valem então as leis, os estatutos, os regulamentos e as regras de conduta,
quando prevalece uma justiça enganosa exercida por questões de poder e
interesses materialistas?
Justiça: Quase nada, ou
uma mera representação de papeis. Enquanto o ser humano não entender que ser
justo é repensar seus valores morais, e exercê-los na prática, reconhecendo e
respeitando os valores do outro, tudo isso não passa de mero discurso vazio.
César: E já que a
humanidade a trata dessa forma enganosa e triste, como a senhora se sente no
mundo de hoje?
Justiça: Como sempre me
senti em muitos momentos e espaços desse mundo: maltrapilha, descalça, cansada,
tristemente exercida por muitos aproveitadores, interesseiros e egoístas, cujos
valores morais são hipócritas, demagógicos e extensamente duvidosos. Mas ainda
confio que os poucos justos podem fazer a diferença na vida.
Repórter: Não podia
esperar conclusão mais lúcida e justa de sua parte. Muito grato pelas palavras
sábias e oportunas.
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